Walmir Rosário*
Reiterada vezes, a Ceplac é alvo de francos atiradores. A mais recente polêmica envolvendo o órgão responsável pela pesquisa e extensão do cacau – além de outros cultivos – foi criada através de um questionamento do secretário da Agricultura da Bahia, Eduardo Salles. O assunto poderia ter passado despercebido não fosse o autor engenheiro agrônomo e ocupante do cargo máximo da agricultura na Bahia.
O tema divulgado pelo secretário era carregado de incerteza sobre o futuro da instituição, o que é bastante plausível, haja vista a importância da Ceplac para a agricultura baiana e brasileira. Porém, as premissas questionadas não foram bastantes e suficientes para tratar com a relevância que merece, provocando um debate estéril e desnecessário, não acrescentando coisa alguma em torno da questão mais premente: a Ceplac tem o que contribuir para o desenvolvimento econômico ou não?
A questão do patrimônio material e imaterial da Ceplac ser transferido para a Embrapa, universidades (existentes ou a ser criadas) ou outros órgãos análogos não serve como ponto de partida para uma discursão. Ao contrário, inviabilizaria qualquer tentativa neste sentido, iniciando pelas questões intrínsecas do seu quadro de pessoal, a exemplo do modelo jurídico empregatício.
Como se isso por si só não bastasse, ainda existem outros entraves como os objetivos de cada uma dessas instituições – estrutura e missão – passando pelo know-how existente nas atividades desempenhadas, somente para ficar nessas questões menores. Existem diferenças abissais entre os modelos de financiamento das pesquisas realizadas pela Ceplac – hoje um departamento do Ministério da Agricultura – e pela Embrapa.
Claro que como o papel aceita qualquer tipo de projeto, os técnicos em burocracia administrativa poderiam criar modelos dos mais diversos, híbridos ou não para dar forma a um desses monstrengos governamentais qualquer. Porém, não haverá como suprir o conhecimento científico adquirido ao longo do tempo sobre as áreas econômica, geológica, agronômica, social, dentre outras tão essenciais para o desenvolvimento das regiões cacaueiras da Bahia e do Brasil.
Digo isso porque a Ceplac fomentou, durante todo esse tempo, o conhecimento integrado das lavouras existentes nas regiões onde atua, sobretudo sobre a cacauicultura, cultura perene que exige décadas de observação para a formação de uma teoria. Mas isso ainda é pouco se formos observar a lavoura do cacau como um elemento de ligação cultural dos povos que desenvolvem essa atividade.
A Nação Grapiúna formada pelos mais de 100 municípios da Bahia tem impregnado no homem o “visgo do cacau”, o que se tornou mais que um símbolo, transformando-se numa identidade em um território habitado por mais de três milhões de pessoas. Nessa mesma região, a Ceplac, historicamente, pode ser creditada como o órgão governamental vetor do desenvolvimento, participando, decisivamente, de todas as ações empreendidas junto ao diversos setores da comunidade.
Mas se a Ceplac do passado participou do processo de amalgamento socioeconômico regional, a de hoje, rejeitada pelos sucessivos governantes da área federal, poderá ser repensada e reestruturada com a finalidade de continuar o processo iniciado desde a sua criação. Se já não é considerada a mesma por alguns setores da sociedade, notadamente a política e a rural, que se promova sua reestruturação, para que preste um serviço à altura de suas tradições.
E neste mister a Ceplac de hoje tem consciência de que “pode e deve” (para utilizar uma expressão de marketing utilizada pelos seus técnicos anos atrás) mudar e elaborar um amplo projeto para tal. Se fizermos um esforço, nossa memória vai relembrar diversos modelos de Ceplac, cada uma deles em consonância com a necessidade da lavoura em determinadas épocas.
A Ceplac da reestruturação dos créditos; da recuperação da produção com o uso de novas técnicas provenientes da revolução verde, com a extensão rural; a do aumento da produtividade, com as pesquisas científicas. Tudo sob os olhares atentos de José Haroldo, Paulo Alvim e outros tantos competentes técnicos, que conseguiam elaborar projetos e propostas em recursos e novas ampliações.
Na década de 80, os políticos mandantes no país promoveram o sucateamento da Ceplac sob o argumento imbecil de que seria um órgão “filhote da ditadura”, com o quadro de pessoal inchado e sem eficiência. Doaram os prédios, as máquinas desbravadoras de estradas vicinais, desmontaram a pesquisa e extensão.
Ao contrário dessa época, hoje se promove a reinserção da Ceplac nas propostas modernas, a exemplo de contribuir efetivamente para a conservação da Biodiversidade, elegendo como missão o desenvolvimento rural sustentável das regiões produtoras de cacau. Buscando ser uma instituição de excelência no desenvolvimento de modelos competitivos e sustentáveis de produção para a agricultura tropical perene nas regiões cacaueiras. A cabruca, sistema de cultivo do cacau que prima pela preservação ambiental e que tem por premissa a conservação produtiva, evidencia a importância da lavoura cacaueira na preservação da biodiversidade, da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica.
Enquanto essa transformação é elogiada efusivamente pela comunidade científica nacional, que aguarda um plano de ação consistente para a produção sustentável durante a realização da Rio+20, os “urubus” voltam a sobrevoar a Ceplac em busca de “carniças” institucionais” para saciar sua fome. Ainda bem que “praga de urubu magro não pega em cavalo gordo”, como diz o ditado popular.
*Advogado, Jornalista, ex-ceplaqueano e editor do site: www.ciadanoticia.com.br